Clássicos Literários Lista completa dos clássicos da literatura publicados em português.

Cícero

Estadista Romano (106-43 a.C.)

Marco Túlio Cícero foi um advogado, estadista, escritor, orador e filósofo da República Romana, eleito cônsul em 63 a.C.. Sua influência na língua latina foi tão imensa que se acredita que toda a história subsequente da prosa, não apenas no Latim, como nas línguas europeias, seja ou uma reação a seu estilo ou uma tentativa de retornar a ele. Segundo Michael Grant, "a influência de Cícero sobre a história da literatura e das ideias europeias em muito excede a de qualquer outro escritor em prosa de qualquer língua". A redescoberta das cartas de Cícero por Petrarca é geralmente considerada como um dos eventos iniciais do Renascimento. Segundo o historiador polonês Tadeusz Zieliński, "o Renascimento foi, acima de tudo, um reavivamento de Cícero e, apenas depois dele e através dele, do resto da antiguidade clássica". O pico da autoridade e prestígio de Cícero se deu durante o Iluminismo no século XVIII e seu impacto sobre os principais pensadores iluministas, como John Locke, David Hume e Montesquieu, foi substancial.

Cícero nasceu em 106 a.C. em Arpino, uma cidade montanhosa a 100 quilômetros para o sudeste de Roma. Seu pai era um rico membro da ordem equestre e possuía boas relações em Roma. Porém, sendo semi-inválido, não pôde entrar na vida pública, mas estudou extensivamente para compensar. Neste período da história romana, ser considerado "culto" significava ser capaz de falar tanto o latim quanto grego. Cícero foi, portanto, educado nos ensinamentos dos antigos filósofos, poetas e historiadores gregos. Cícero obteve muito de sua compreensão sobre a teoria e prática da retórica do poeta grego Árquias, e utilizou este conhecimento para traduzir muitos dos conceitos da filosofia grega para o latim. Foi precisamente esta educação ampla que abriu-lhe as portas da tradicional elite romana.

Seu primeiro cargo na magistratura romana foi o de um dos vinte questores anuais, um posto de "treinamento" considerado pré-requisito para o avanço à uma posição mais séria na administração pública, numa spanersidade de áreas, mas com uma tradicional ênfase na administração e na contabilização rigorosa das verbas públicas sob o acompanhamento de um magistrado sênior ou governador provincial. Cícero serviu na Sicília, em 75 a.C., e demonstrou honestidade e integridade com os seus habitantes. Conseguiu avançar no cursus honorum, assumindo cada uma das magistraturas, próxima da idade mínima possível: questor em 75 a.C. (31 anos), edil em 69 a.C. (37 anos) e pretor em 66 a.C. (40 anos). Finalmente, Cícero foi eleito cônsul em 63 a.C., aos 43 anos de idade.

Durante seu mandato, Cícero desmantelou uma conspiração cujo objetivo era assassiná-lo e derrubar a República Romana com a ajuda de forças armadas estrangeiras, liderada por Lúcio Sérgio Catilina. Cícero obteve um senatus consultum ultimum e expulsou Catilina da cidade depois de quatro veementes discursos, conhecidos como Catilinárias, que, até hoje, são considerados como exemplos máximos de seu estilo retórico. O Senado então decidiu sobre a punição dos conspiradores, temia-se que a simples prisão domiciliar ou o exílio não seriam suficientes. A princípio, Décimo Silano pediu a "penalidade extrema"; muitos foram convencidos por Júlio César, que descartou o precedente que seria criado e defendeu a pena de prisão perpétua em variadas cidades italianas. Catão, o Jovem, então se insurgiu a favor da pena de morte, e todos no Senado concordaram com ele. Cícero levou os conspiradores até o Tuliano, a notória prisão romana, onde foram todos estrangulados. Cícero recebeu o honorífico de Pater Patriae pelos seus esforços para suprimir a conspiração, mas viveu o resto da vida com medo de um processo por ter condenado cidadãos romanos sem consentimento prévio de um tribunal responsável.

Em 60 a.C., Júlio César, convidou Cícero para ser o quarto membro de sua parceria com Pompeu e Crasso, uma aliança que seria finalmente chamada de Primeiro Triunvirato. Cícero recusou o convite pois suspeitava que o objetivo dos três era minar as instituições republicanas. Dois anos mais tarde, o tribuno da plebe Públio Clódio Pulcro, introduziu leis (Leges Clodiae) ameaçando com o exílio qualquer um que tenha executado um cidadão romano sem o devido processo legal. Cícero tentou angariar o apoio dos senadores e cônsules, especialmente de Pompeu, mas percebeu que não conseguiria, então ele próprio seguiu para o exílio em Tessalônica. Depois da intervenção dos recém-eleitos tribunos Tito Ânio Milão, o Senado votou a favor de reconvocar Cícero de volta. Clódio lançou o único voto contra o decreto, e Cícero retornou para a Itália em 57 a.C..

Quando César invadiu a Itália, em 49 a.C., Cícero, assim como muitos outros senadores romanos, deixou a capital. Depois da vitória de César na Batalha de Farsalos, Cícero voltou para Roma muito cautelosamente. César perdoou-o e Cícero tentou ajustar-se à situação e manter seu trabalho político, esperando que César revivesse a República e suas instituições. Porém, Cícero foi completamente surpreendido quando os liberatores assassinaram César em 44 a.C.. Ele não fazia parte da conspiração, mas os conspiradores estavam seguros de seu apoio ou simpatia.

Cícero e Antônio tornaram-se os dois principais políticos em Roma — Cícero na posição de voz do Senado; Antônio como cônsul, líder dos cesarianos e executor não oficial do testamento público de César. As relações entre os dois, jamais amigáveis, pioraram depois de Cícero ter acusado Antônio de estar tomando certas liberdades indevidas na interpretação dos desejos e intenções de César. Otaviano era o filho adotivo de César e seu herdeiro; depois que ele retornou para a Itália, Cícero tentou jogá-lo contra Antônio. Ele atacou Antônio numa série de discursos conhecidos como Filípicas, uma referência às denúncias de Demóstenes, considerado o maior orador da antiguidade, contra Filipe II da Macedônia.

O plano de Cícero fracassou quando Antônio e Otaviano se uniram para formar o Segundo Triunvirato, depois de duas batalhas seguidas, em Fórum dos Galos e Mutina. O triunvirato decidiu então começar a proscrever seus inimigos e potenciais rivais imediatamente depois de conseguirem transformar em lei a aliança. Cícero foi um dos proscritos perseguidos de forma mais violenta e obstinada. Consta que suas últimas palavras foram: "Não há nada adequado sobre o que está fazendo, soldado, mas tente me matar adequadamente". Ele se ajoelhou perante seus captores inclinando sua cabeça. Segundo Plutarco, Herênio primeiro o matou e depois cortou sua cabeça. Por ordem de Antônio, suas mãos, que haviam escrito as Filípicas contra ele, foram cortadas também; elas e a cabeça foram pregadas na Rostra no Fórum Romano seguindo a tradição inaugurada por Mário e Sula, que também exibiam as cabeças de seus inimigos no Fórum.

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