Boécio
Filósofo Romano (480-524)Anício Mânlio Torquato Severino Boécio foi um filósofo, poeta, estadista e teólogo romano. Venerado como mártir pela Igreja Católica Romana, e um dos fundadores da Escolástica, suas obras tiveram uma profunda influência na filosofia cristã do Medievo. Ele nasceu cerca de um ano depois de Odoacro depor o último imperador romano do Ocidente e se declarar rei da Itália.
Boécio nasceu em Roma por volta do ano 480, quando o Império Romano do Ocidente vivia os seus últimos anos, e quando na Europa a Antiguidade Clássica já cedia lugar à Idade Média. Era filho de Flávio Mânlio Boécio, pertencente a uma importante e antiga família patrícia dos Anícios, cristianizada há mais de um século, que tinha dado a Roma vários cônsules e o imperador Anício Olíbrio. O pai faleceu pouco depois de ter sido nomeado cônsul, deixando Boécio órfão com apenas sete anos, que em resultado foi educado por Quinto Aurélio Mêmio Símaco, amigo da família, patrício e cristão pio.
Desconhece-se onde Boécio aprendeu a língua grega com tamanha proficiência e profundidade, e onde adquiriu os profundos conhecimentos sobre os autores clássicos greco-latinos que a sua obra demonstra. Os documentos históricos conhecidos são ambíguos, mas alguns estudiosos apontam como muito provável que tenha estudado em Atenas ou em Alexandria.
Casou com Rusticiana, uma filha do seu mentor Símaco, tendo, pelo menos, dois filhos. Seguindo a tradição familiar, virou senador e, em 510, foi escolhido cônsul, já quando Roma se encontrava sob domínio dos ostrogodos. Face à crescente escassez de pessoas com formação avançada, resultado das convulsões do tempo e do declínio dos estudos clássicos, o jovem Boécio entrou ao serviço do rei ostrogótico Teodorico, o Grande, sendo encarregado de múltiplas funções de grande responsabilidade.
Por volta do ano 520, quando tinha cerca de 40 anos de idade, Boécio já ocupava a posição de mestre dos ofícios, posição correspondente a de governador da corte e chefe dos serviços governamentais do rei. Refletindo a importância política e o prestígio do pai, os seus dois filhos foram escolhidos para co-cônsules no ano de 522.
Acabou por se tornar amigo e confidente do rei, o que o não livraria de, no ano de 523, ser preso por sua ordem. A prisão ocorreu supostamente por Boécio ter defendido abertamente o senador Albino, caído em desgraça e acusado de traição por ter escrito uma missiva ao imperador bizantino Justino I queixando-se da governação de Teodorico. Outras fontes acusam-no de estar envolvido numa conspiração para restaurar a república, com o favor do imperador bizantino.
Foi acessoriamente acusado de magia, por estar envolvido em estudos de astrologia, algo então considerado como sacrílego, mas que ele negou veementemente, atribuindo a sua prisão a difamação pelos seus rivais pessoais. Qualquer que tenha sido a causa, foram-lhe retiradas todas as honras, viu os seus bens confiscados e foi aprisionado em Pavia, onde foi torturado. Ainda assim, pôde escrever na prisão a obra A Consolação da Filosofia, um dos seus melhores trabalhos, na qual reflete sobre conceitos metafísicos, entre os quais o conceito de eternidade, e sobre a instabilidade de um Estado cujo governo depende de um único homem, como era o caso do rei Teodorico.
Por ordem de Teodorico, ratificada pelo Senado aparentemente sob coação, foi executado em Pávia, em 524, sem chegar a ser julgado. Considerado desde logo como um mártir cristão. Considerado o "Último dos Romanos" e o primeiro dos filósofos escolásticos, a fama de Boécio foi duradoura, propagando-se através de suas obras, as quais serviram, durante a Idade Média europeia, como forma de acesso à filosofia, à matemática e à música da Antiguidade Clássica, com destaque para os autores greco-latinos.
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